Estava
naquele aeroporto pronta para fugir da rotina que me lembrava tudo o que eu
queria esquecer. Não foi fácil terminar, ainda que há muito tempo não fosse
amor. A rotina nos acomodou e nos deu a falsa ilusão de completude, quando na
realidade não passava de comodismo, rotina e o medo do novo. Afinal, foram anos
dividindo uma rotina de obrigações que, a partir de agora, seriam vividas
sozinhas.
Decidi
que viajar sozinha seria um bom recomeço. Precisa reaprender a viver só, a
planejar as saídas do aeroporto, aprender as linhas do metrô, prestar atenção
nos caminhos e outras coisas que dentro da rotina a dois não estavam nas minhas
“obrigações”. Agora o planejamento seria todo meu e isso me assustava.
Como
forma de minimizar, decidir que iria passar os dias com uma amiga em outro
Estado. Fiz a parte do roteiro que estava acostumada (restaurante, teatro,
shoppings, livrarias...) e deixei por último o itinerário do aeroporto até a
casa dela. Decidi que só me preocuparia com o transporte na cidade depois que
já estive lá, com ela. E assim por diante, cada dia com as suas dificuldades. Não
adiantava me preocupar com a “parte dele”, pois isso só me consumia.
O
voo ocorreu tranquilamente e depois de cumpridas as formalidades do aeroporto,
lá estava eu, no ponto de ônibus, esperando a chegada do ônibus que me levaria
até a estação de metrô e de lá pegaria o metrô até a casa da minha amiga.
Entrei, paguei e sentei. Divagando em meio aos meus pensamentos, escutei uma
voz masculina pedir licença para sentar, virei o olhar e disse pra ele ficar à
vontade.
Ele
era moreno, alto, usava barba, mochilão nas costas e um sorriso lindo.
Começamos aquela conversa padrão de ônibus e logo depois já estávamos rindo das
experiências da vida que nos fizeram chegar até ali, naquele ônibus. Conversa
leve, despretensiosa, relaxante e que te faz sorrir com os olhos sem motivo.
Ele se chamava Marcus, 30 anos, engenheiro e mochileiro nas horas vagas. Em um
dado momento da conversa, me senti a vontade para dizer que fazia muito tempo
que não viaja só e que me assustava a ideia de estar sozinha em uma cidade
grande e me perder.
Ele
sorriu e disse que o melhor de qualquer viagem é se perder. Sempre haverá um
café fantástico na rua errada, uma livraria não catalogada para desfazer
qualquer programação ou alguém legal para conhecer, como a gente, naquele
ônibus. Certeza que eu fiquei vermelha naquele momento. Sorri e concordei.
Quando
vimos, já estamos na estação de metrô. Fomos andando até o guichê de compra dos
bilhetes do metrô, compramos e em um dado momento, precisávamos nos despedir, pois
pegaríamos linhas diferentes. Ele perguntou se eu queria ajuda. Eu agradeci e
disse que não, que dessa vez eu queria me perder.
Ele
me deu um cartão de visitas e disse que poderia ligar se me perder sozinha não
estivesse sendo tão legal quanto se perder juntos.
Ele
seguiu pela sua linha e eu pela minha.
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