Terminei de ler esse livro tem mais de
uma semana e fiquei pensando todos esses dias se deveria ou não escrever uma
resenha com a minhas impressões sobre o livro. Cheguei a conclusão de que
deveria escrever, pois se eu fiz um blog com essa finalidade, não devo ter
vergonha de dizer que esse livro, super premiado, muito bem escrito e com um
enredo muito envolvente me frustrou.
Ganhador do Prêmio São Paulo de
Literatura do ano de 2013 e produzido pela Companhia das Letras, “Barba
Ensopada de Sangue” me deixou com inúmeras perguntas não respondidas sobre o
ponto chave do livro, qual seja, o destino e a motivação do sumiço do avô do
narrador. De fato, nem todos os questionamentos de um livro precisam ser
respondidos para que ele seja considerado um excelente livro, porém, esses
espaços em branco devem levar o leitor a alguma conclusão, nem que seja a de
que a resposta para aquele questionamento é irrelevante para o fim pretendido pelo
Autor.
Por exemplo. Tatiana Salem Levy, em Paraíso,
não diz qual foi o resultado do exame de HIV da personagem principal. Minha
(humilde) explicação é de que apesar dessa dúvida (porta ou não o vírus) ser
algo que consome a narradora, em um dado momento da história, a Ana percebe que
foi essa mesma dúvida que lhe trouxe
novos horizontes, pessoas e experiências boas. A vida dela mudou para melhor independente
do resultado, o que me leva a conclusão de que o leitor não precisa dessa
resposta para entender o todo.
Agora em “Barba Ensopada de Sangue” é
diferente. O livro conta a história de um professor de natação com um problema
neurológico, que mudou de cidade (e por consequência, toda a sua vida) na
tentativa de descobrir o mistério da morte do seu avô. Nessa busca por
respostas, muitas questões são levantadas e dão vida ao livro. O narrador (não
tem nome) tem um questão familiar não resolvida (vulgo irmão “fura-olho”),
cheio de conflitos internos, duas mulheres passam pela vida dele pós mudança de
cidade e a própria cidade é cheia de superstições, o que dificulta a realização
de entrevistas com os moradores locais que teriam conhecido o seu avô.
Detalhe importante. O narrador tem uma
cachorra que só falta falar. Leal, parceira de todas as horas e a maior
companheira do narrador durante o livro.
Agora, todas essas questões só ocorrem
porque o narrador quer encontrar respostas sobre o mistério da morte do avô.
Paginas e páginas de histórias paralelas (frise-se, com muitos conflitos e
angustia para quem lê) são vencidas na busca pela resposta sobre o destino do
avô e quando o narrador tem a possibilidade de encontrar a resposta, ele sequer
faz os questionamentos mínimos. Por quê? Alguém pode me responder? Alguém tem o
e-mail do Daniel Galera? Alguém sabe da agenda de eventos dele? Preciso de
respostas rs.
O livro é muito bom, porém eu sou
daquelas leitoras que acredita que existe um contrato tácito entre Autor e
Leitor, em que as respostas de determinados questionamentos feitos no livro
devem ser respondidos no próprio livro, o que eu não encontrei nesse livro. Tenho
uma infinidade de perguntas sobre o avô, que é o eixo do livro. Os outros
questionamentos eu me conformo em não saber.
Para quem gosta desse sofrimento, é
uma excelente leitura.