sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Resenha – “Barba Ensopada de Sangue” – Daniel Galera.

Terminei de ler esse livro tem mais de uma semana e fiquei pensando todos esses dias se deveria ou não escrever uma resenha com a minhas impressões sobre o livro. Cheguei a conclusão de que deveria escrever, pois se eu fiz um blog com essa finalidade, não devo ter vergonha de dizer que esse livro, super premiado, muito bem escrito e com um enredo muito envolvente me frustrou.

Ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura do ano de 2013 e produzido pela Companhia das Letras, “Barba Ensopada de Sangue” me deixou com inúmeras perguntas não respondidas sobre o ponto chave do livro, qual seja, o destino e a motivação do sumiço do avô do narrador. De fato, nem todos os questionamentos de um livro precisam ser respondidos para que ele seja considerado um excelente livro, porém, esses espaços em branco devem levar o leitor a alguma conclusão, nem que seja a de que a resposta para aquele questionamento é irrelevante para o fim pretendido pelo Autor.

Por exemplo. Tatiana Salem Levy, em Paraíso, não diz qual foi o resultado do exame de HIV da personagem principal. Minha (humilde) explicação é de que apesar dessa dúvida (porta ou não o vírus) ser algo que consome a narradora, em um dado momento da história, a Ana percebe que foi  essa mesma dúvida que lhe trouxe novos horizontes, pessoas e experiências boas. A vida dela mudou para melhor independente do resultado, o que me leva a conclusão de que o leitor não precisa dessa resposta para entender o todo.

Agora em “Barba Ensopada de Sangue” é diferente. O livro conta a história de um professor de natação com um problema neurológico, que mudou de cidade (e por consequência, toda a sua vida) na tentativa de descobrir o mistério da morte do seu avô. Nessa busca por respostas, muitas questões são levantadas e dão vida ao livro. O narrador (não tem nome) tem um questão familiar não resolvida (vulgo irmão “fura-olho”), cheio de conflitos internos, duas mulheres passam pela vida dele pós mudança de cidade e a própria cidade é cheia de superstições, o que dificulta a realização de entrevistas com os moradores locais que teriam conhecido o seu avô.

Detalhe importante. O narrador tem uma cachorra que só falta falar. Leal, parceira de todas as horas e a maior companheira do narrador durante o livro.

Agora, todas essas questões só ocorrem porque o narrador quer encontrar respostas sobre o mistério da morte do avô. Paginas e páginas de histórias paralelas (frise-se, com muitos conflitos e angustia para quem lê) são vencidas na busca pela resposta sobre o destino do avô e quando o narrador tem a possibilidade de encontrar a resposta, ele sequer faz os questionamentos mínimos. Por quê? Alguém pode me responder? Alguém tem o e-mail do Daniel Galera? Alguém sabe da agenda de eventos dele? Preciso de respostas rs.

O livro é muito bom, porém eu sou daquelas leitoras que acredita que existe um contrato tácito entre Autor e Leitor, em que as respostas de determinados questionamentos feitos no livro devem ser respondidos no próprio livro, o que eu não encontrei nesse livro. Tenho uma infinidade de perguntas sobre o avô, que é o eixo do livro. Os outros questionamentos eu me conformo em não saber.


Para quem gosta desse sofrimento, é uma excelente leitura.    

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Resenha - "O paraíso são os outros" - Valter Hugo Mãe/Nino Cais

Comecei a ler Valter Hugo Mãe por este livro dedicado ao público infanto-juvenil. É um livro bem fininho (em torno de 18 folhas), leitura fácil e de uma ternura sem igual.

Ele é narrado por uma menina, que fala sobre a visão que ela tem sobre o amor. Seu ponto de vista é desprovido de qualquer maldade e decorre do que a sua pouco experiência de vida já lhe mostrou do que seria amar. Para uma geração em que a conotação sexual é quase uma obrigação em tudo, o livro destoa por completo.

 A mãe da menina tem um papel fundamental no conhecimento desse mundo, já que é ela quem dá as “dicas” do que seria o amor na prática, por exemplo: “Os gatos são casais misturados. Eu acho. Não são fiéis. Os cachorros também não. São fiéis aos donos, mas entre si, não namoram com muito cuidado. A minha mãe explicou que o amor também é namorar com cuidado.”

Li algumas resenhar de que esse livro é uma continuação de uma sequencia do livro “A desumanização”, também de Valter Hugo Mãe. Vou ter que ler esse livro para confirmar (ou não) a informação.


Por ora, deixo registrado apenas a “fofurísse” do livro e a indicação para os interessados em conhecer o Autor.