“Em trabalhos práticos de física, qualquer
aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese
científica. Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade
de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca se
errou ou acertou ao obedecer a seu sentimento.” (Milan Kundera - A insustentável leveza do ser).
A
primeira vez que ouvir falar desse livro foi durante o curso de francês, quando
um colega de turma e o professor conversavam sobre um livro fantástico que
envolvia um romance e filosofia. Fiquei curiosa e nesses anos tive o nome desse
livro na cabeça, mas a vontade não foi o suficiente para comprar pela internet,
já que nunca encontrei esse livro em Belém. Parece que a minha cabeça estava
sendo preparada para ele.
Mais
recentemente, com a pesquisa de livros possivelmente interessantes, notei que a
Insustentável leveza do ser está na
lista de “10 livros que deve ler” , “10 livros mais importantes”, “Não fique
sem ler” e afins, de pessoas com algum know
how para a literatura, o que me deixou ainda mais curiosa.
E,
assim, em um dia despretensioso, eu o achei.
O
livro começa com muitos questionamentos filosóficos, os quais vão sendo
diluídos e respondidos (dentro do possível) de acordo com o desenrolar da
história. Isto é, o Autor desenvolve a tal “filosofia e romance” dentro dos
conflitos e das escolhas que os personagens vivem em um período de mais ou
menos 10 anos durante a guerra fria. A maior parte do cenário da história é a
cidade de Praga, na República Tcheca, então país fechado pelo regime socialista.
Em
sua maioria, o texto é tragédia, seja das escolhas humanas, seja do contexto
político em que os personagens estão inseridos. Vai dando uma tristeza ver fugas
e a perdas que os personagens sofrem, até porque a literatura que é maciçamente
difundida é a dos finais felizes, então é um choque entender que o bonito do
livro é que ele trata das mazelas do ser humano, isto é, que é um livro real.
Até
eu entender isso, o que mais me chamou atenção no livro foi o cenário e o
contexto político, já que sou uma apaixonada por guerra fria e, muito por isso,
tenho muita vontade conhecer o leste europeu, tendo a cidade de Praga duas
estrelinhas. A guerra, as invasões e o sistema opressor do regime socialista
são descritos com tanta precisão e maestria que é impossível que ele não deixe
nenhuma marca em quem o lê.
É
um livro tão marcante que, como se não bastasse os conflitos super complexos
dos personagens, a cachorra também tem os seus sentimentos, aflições e
problemas esmiuçados pelo Autor, de maneira que você sofre com a tragédia que
também envolve Kerenin. A dor dela é a sua dor.
Mas
mesmo com tanta tragédia, é de um final feliz irretocável, pois os personagens
alcançam (cada um a sua maneira) a leveza do ser. Isto é, aquilo que é preciso para viver,
independente das opressões do sistema e das suas próprias perturbações enquanto
ser humano. Tereza e Tomas devem formar um dos casais mais complexos da literatura,
com certeza.
A
conclusão mais óbvia de todas é que este livro é digno de todos os prêmios
recebidos, de todos os elogios feitos e de todas as listas que está inserido.
Sim, está entre os 10 melhores e você deve antes de morrer.