Faz
algum tempo que li um determinado livro sobre medicina indiana. O livro é
narrado por um brasileiro que levou sua companheira, com diagnóstico de
esclerose múltipla, para fazer um tratamento médico na índia. Detalhes do
tratamento a parte (muito interessante), em sua primeira viagem, uma das
primeiras coisas que o deixou chocado foi em como os taxistas indianos não
tinham aquela exclusividade padrão que se imagina de um taxista. Ao questionar
o motivo do taxista parar para outras pessoas quando ele já estava dentro do
carro, ele respondeu que não havia motivo para levar uma única pessoa se outras
pessoas querem ir para o mesmo lugar e há espaço no carro. Faz sentido, mas é difícil trazer essa
filosofia para o nosso (pensando enquanto brasileiros) dia-a-dia.
Problemas
de segurança a parte, acredito que a maior dificuldade de dividir (seja espaço,
objetos, atenção...) seja o apego que temos com o que é “nosso”. Lógico, ainda
que criação doméstica seja para dividir as coisas com o seu irmão (quem tem),
de uma forma macro, somos criados estudar, trabalhar e ter as nossas coisas, o
nosso espaço. Nesse sistema de “ter” e “comprar” acaba indo no bolo uma série
de coisa, entre elas, não dividir o taxi, não dar carona, comprar mais do que
precisa, viver de aparências e etc.
Vão
também os sentimentos. Acaba que sufocamos ou somos sufocados. Sofremos ou
fazemos alguém sofrer. Tudo isso para ter alguém ou a companhia de alguém que
quer ter a companhia de outra pessoa. É um ciclo vicioso de apego que só gera
frustração. As pessoas estão parcialmente de felizes: de um lado tem alguém que
se contenta com pouco e de outro tem alguém não se entrega por inteiro, só dá
uma parte pequena de si. Nesses pequenos reforços positivos, relacionamentos se
sustentam por um prazo muito maior do que deveriam.
Desapegar
significa, ao mesmo tempo, “deixar ir” e estar preparado para o “não voltar”. O
legal é que quando volta, a mensagem que fica é que se esta diante de uma
pessoa que busca um relacionamento que não está pautado em posse superficial,
mas em escolhas feitas com liberdade. E liberdade é algo fundamental.
Não
é toa que dizem que para saber sobre os sentimentos de alguém, você deve deixar
a pessoa ir. Se voltar, é de livre vontade que a pessoa quer a sua companhia.
Se não voltar, vida que segue. Nem tudo é perda, algumas coisas são livramento.
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