quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Nota sobre o desapego.

Faz algum tempo que li um determinado livro sobre medicina indiana. O livro é narrado por um brasileiro que levou sua companheira, com diagnóstico de esclerose múltipla, para fazer um tratamento médico na índia. Detalhes do tratamento a parte (muito interessante), em sua primeira viagem, uma das primeiras coisas que o deixou chocado foi em como os taxistas indianos não tinham aquela exclusividade padrão que se imagina de um taxista. Ao questionar o motivo do taxista parar para outras pessoas quando ele já estava dentro do carro, ele respondeu que não havia motivo para levar uma única pessoa se outras pessoas querem ir para o mesmo lugar e há espaço no carro.  Faz sentido, mas é difícil trazer essa filosofia para o nosso (pensando enquanto brasileiros) dia-a-dia.

Problemas de segurança a parte, acredito que a maior dificuldade de dividir (seja espaço, objetos, atenção...) seja o apego que temos com o que é “nosso”. Lógico, ainda que criação doméstica seja para dividir as coisas com o seu irmão (quem tem), de uma forma macro, somos criados estudar, trabalhar e ter as nossas coisas, o nosso espaço. Nesse sistema de “ter” e “comprar” acaba indo no bolo uma série de coisa, entre elas, não dividir o taxi, não dar carona, comprar mais do que precisa, viver de aparências e etc.

Vão também os sentimentos. Acaba que sufocamos ou somos sufocados. Sofremos ou fazemos alguém sofrer. Tudo isso para ter alguém ou a companhia de alguém que quer ter a companhia de outra pessoa. É um ciclo vicioso de apego que só gera frustração. As pessoas estão parcialmente de felizes: de um lado tem alguém que se contenta com pouco e de outro tem alguém não se entrega por inteiro, só dá uma parte pequena de si. Nesses pequenos reforços positivos, relacionamentos se sustentam por um prazo muito maior do que deveriam.

Desapegar significa, ao mesmo tempo, “deixar ir” e estar preparado para o “não voltar”. O legal é que quando volta, a mensagem que fica é que se esta diante de uma pessoa que busca um relacionamento que não está pautado em posse superficial, mas em escolhas feitas com liberdade. E liberdade é algo fundamental.

Não é toa que dizem que para saber sobre os sentimentos de alguém, você deve deixar a pessoa ir. Se voltar, é de livre vontade que a pessoa quer a sua companhia. Se não voltar, vida que segue. Nem tudo é perda, algumas coisas são livramento.


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